Paulo, Timóteo e Tito
Texto: Tito 1.3.
Tema: A Necessidade de Ordem na Igreja Local.
Introdução:
Tenho aprendido ser
importante falar sobre o governo da igreja e seus ofícios fora do período de
eleições eclesiásticas por pelo menos três razões:
1. A abordagem se concentra, via de regra, apenas nas características requeridas para se exercer o ofício.
2. Não há aprofundamento no tema do governo da igreja e sua relação com a saúde da igreja e sua ordem.
3. Há sempre o risco da manipulação ou do favorecimento que geram comentários equivocados nos corredores das igrejas.
E creio, também, ser uma urgente necessidade trazermos esse assunto para os púlpitos das igrejas noutras ocasiões para ser ensinado com mais profundidade a fim de instruirmos os presbiterianos sobre o tema e as razões bíblico-teológicas e pastorais ligadas a ele, por crermos ser essa a forma bíblica do governo da igreja.
1. A abordagem se concentra, via de regra, apenas nas características requeridas para se exercer o ofício.
2. Não há aprofundamento no tema do governo da igreja e sua relação com a saúde da igreja e sua ordem.
3. Há sempre o risco da manipulação ou do favorecimento que geram comentários equivocados nos corredores das igrejas.
E creio, também, ser uma urgente necessidade trazermos esse assunto para os púlpitos das igrejas noutras ocasiões para ser ensinado com mais profundidade a fim de instruirmos os presbiterianos sobre o tema e as razões bíblico-teológicas e pastorais ligadas a ele, por crermos ser essa a forma bíblica do governo da igreja.
Há um abismo de
desinformação e má formação por parte da liderança da igreja que podemos
colocar em risco a integridade da própria proclamação do evangelho.
A integridade do Evangelho
é a razão de Paulo ensinar tanto a Timóteo como a Tito sobre o governo da
igreja e as exigências divinas para o episcopado.
Contexto:
Paulo deixou Tito em Creta
com o propósito de organizar a igreja da ilha. Paulo estava a caminho de
Nicópolis, na costa da Grécia com o desejo de passar o inverno ali.
A razão disso era que assim
como advertiu a Timóteo contra os falsos mestres judaizantes na primeira
epístola que lhe escreveu (1 Tm 3), também o faz a Tito (Tt 1.10-16).
Paulo mostra que a mesma graça que confere a
salvação, conduz à vida piedosa e sustenta a nossa esperança na volta de
Cristo. Quem é regenerado pelo Espírito Santo vive uma vida de santidade já
neste mundo; “os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras” (Tt 3.5-8).
O papel dos presbíteros é ensinar pela vida e
pela palavra como se deve viver a vida piedosa na igreja ( o mesmo se aplica aos diáconos).
Paulo mostra na epístola a Tito que há duas
razões fundamentais para a existência de presbíteros na Igreja: A primeira é a
necessidade de organização (v.5). A segunda é a presença na igreja de
insubordinados, falsos mestres gananciosos e impuros e descrentes (v. 10-16).
Proposição:
Paulo instrui a Tito quanto
à necessidade de ordem nas igrejas de Creta. Há três ensinos básicos que
precisamos observar quando à ordem no governo das igrejas locais:
I) Por em ordem as coisas restantes.
®
Ordem é
organização.
®
Organização
é tanto administração coerente com as escrituras como pastoreio sadio na fé.
II. Constituir presbíteros em cada cidade.
Presbítero = ancião. Bispo (epíscopo – v.7) = superintendente,
administrador.
No Judaísmo eram líderes mais idosos e experientes dentre o povo.
Na igreja = designação da liderança pastoral e administrativa da igreja.
Deve ser observado que em cada igreja o governo sera exercido por presbíteros, não um presbítero auxiliado por diáconos, mas o governo deverá ser exercido por um grupo de presbíteros, pois o governo da igreja deve ser plural.
A Igreja Presbiteriana faz uma distinção
entre presbíteros docentes e presbíteros regentes, não como subdivisões do
ofício de presbíteros, mas como dois ofícios diferentes.
Veja como o assunto é abordado na Constituição
da IPB:
Art.25 - A Igreja exerce as suas funções na esfera da
doutrina, governo e
beneficência, mediante oficiais que
se classificam em:
a) ministros do Evangelho ou presbíteros docentes;
b) presbíteros regentes;
A base bíblica para isso é encontrada em 1
Timóteo 5.17 onde é dito do presbítero que administra bem e do que se afadiga
na palavra.
Calvino encontra base para essa distinção no
exercício dos dons espirituais em Efésios 4.11 e Romanos 12.8ss. Ali ele define
como “ofício” o exercício dos dons no ministério ordinário da igreja.[2]
Essa distinção, no entanto, não deve ser
vista de modo rígido, mas fluida. Porque uma exigência para o presbiterato é a
capacidade de ensinar, que deve estar presente tanto num quanto noutro. A
docência também participa do governo, pois o conceito de autoridade bíblica é
diferente da secular.
No conselho, não pode haver preeminência nem hegemonia
de um ofício sobre o outro, mas ambos são iguais. Calvino alerta que o conceito
de “hierarquia” não cabe nas definições dos ofícios da igreja.[3], porque o governo da igreja é exercido por servos iguais vocacionados pelo próprio Deus.
III. Conforme o prescrito.
A prescrição é o que consta em Atos 14.23, repetindo Atos 13.1-3.
®
Por meio
de eleição.
Tantos os presbíteros quanto os pastores
devem ser eleitos pela igreja; ainda que nossa CI/IPB[4]
faculte aos Conselhos a prerrogativa de convidá-los anualmente.
®
Com
oração e jejuns.
Calvino diz nas Institutas que a igreja
antiga levava esse assunto da eleição tão a sério que oravam e jejuavam por
isso.[5] Por
isso é ao mesmo tempo triste e vergonhoso ver a presença de menos de 50% dos
membros da igreja presentes nas Assembleias convocadas para as eleições dos
oficiais da igreja!
®
Encomendando-os
ao Senhor.
Isso era feito com imposição de mãos dos
demais presbíteros (Atos 13.3). Um rito simples e feito com muita seriedade,
pois não devia haver imposição de mãos realizadas com precipitação (1 Tm 5).
O ensino de Calvino quanto a isso: (Institutas, Livro IV, capítulo III ).
As quatro questões ou “elementos”
apresentados a seguir, definem o modo prático de reconhecer e praticar a
vocação divina no governo da igreja.
1. Como devem ser os ministros.
2. Como devem ser escolhidos.
3. Quem deve escolhê-los.
4. Que rito ou cerimônias há de iniciá-los.
A explicação de Calvino
de cada uma delas é ao mesmo tempo bíblica, prática, pastoral, convincente e
apologética, visto que não só estabelece uma ordem bíblica para o governo da
igreja como previne e denuncia os desvios da Palavra de Deus perpetrados pela
ambição, avareza e cobiça incentivando o temor a Deus e a edificação da igreja
(Inst. IV.III,11).[6]
1. Como devem ser os ministros? Partindo de 1 Timóteo 3.1 e Tito 1.7
resume as exigências bíblicas a que sejam “homens de boa doutrina e vida
santa”, nunca ineptos ou incapazes.
2. Como devem ser escolhidos? A escolha dos ministros (e dos
presbíteros) acontecia com a prática de jejuns e orações (At 13.1-3; At 14.23).
A razão disso era o fato de a escolha dos ministros ser “o mais sério dos
assuntos” da igreja.
3. Quem deve escolhê-los? Os membros da igreja por meio de eleição.
Calvino afirma: “Que a vocação legítima de um bispo exija ser eleito pelos
homens ninguém de bom senso contestará, posto que haja numerosos testemunhos da
Escritura” (Inst. IV.III,14),[7]
citando para esse fim Atos 1.23; Tito 1.5 e Atos 14.23. A forma de constituir
presbíteros nas igrejas é por meio do voto; “a multidão toda, erguendo as mãos,
indicou a quem queria” (Inst. IV.III,15).[8]
4. Que rito ou cerimônias há de iniciá-los? Calvino diz simplesmente
que era por meio da “imposição de mãos”, realizada exclusivamente pelos
pastores e nas Ordenanças Eclesiásticas acrescenta “providenciando para que ela
ocorra sem superstição e sem afronta”.[9]
Aplicações:
Muitos erros nos conselhos tem sua origem
na superficialidade de nosso conhecimento da forma de governo bíblica,
permitindo influências externas ao conciliarismo.
Frase Final: Tomemos a
resolução de tratar essa questão mais seriedade daqui para a frente para a
glória de Deus e o bem da igreja!
[1] Manual
Presbiteriano. CI/IPB Art 25, p.18.
[2] Calvino.
Institutas IV.III.4-7.
[3] Calvino.
Institutas IV.IV.4.
[4] CI/IPB
Art. 30 a 49 p.19-24.
[5] Calvino.
Institutas Livro IV.III,12.
[6] Institutas
IV.III,11, 2009, p.509. UNESP.
[7]
Institutas IV.III,14, 2009, p.510.
[8]
Institutas IV.III,15, 2009, p. 511.
[9] CALVINO,
João. Ordenanças Eclesiásticas Esboço 1541. In:
FARIA, Eduardo Galasso. João Calvino – Textos Escolhidos, São Paulo: Ed. Pendão Real; 2008, p. 186.