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A Igreja Presbiteriana do Brasil e a Escravidão


A Igreja Presbiteriana do Brasil e a Escravidão

É comum encontrarmos pessoas acusando as igrejas evangélicas históricas de serem omissas quanto à questão da abolição da escravidão no Brasil imperial. O argumento comumente usado é o de que essas denominações foram capazes de fundar grandes e influentes escolas, hospitais de renome; mas não foram capazes de denunciar a escravidão. Ora, essa avaliação histórica é anacrônica, pois impõe sobre aquela época o peso do que essas mesmas instituições se tornaram no decorrer de mais de cem anos de história e desenvolvimento. As grandes escolas e hospitais de hoje, não passavam de pequenas e insignificantes instituições em seus humildes começos naquela época.

Todavia, no caso da Igreja Presbiteriana do Brasil, encontramos boa literatura a respeito da posição dos missionários da PCUSA e parte dos missionários da PCUS, vindos para o Brasil posicionando-se contrariamente à escravidão e a favor da abolição.

         Pelo menos três pastores daquele período, beligeraram a favor da abolição: Emanuel Vanorden (escrevia cartas aos governantes denunciando a escravidão; em sua igreja só eram recebidos como membros os que alforriassem seus escravos); James T. Houston (pregou um sermão contra a escravidão em 08/1884 de grande repercussão na cidade do Rio de Janeiro) e Eduardo Carlos Pereira (publicou artigos no Jornal Imprensa Evangélica e depois os transformou num livrinho de 45 páginas: “A Igreja Evangélica e Suas Relações Com a Escravidão”- 1886).

Apesar de serem contrários à escravidão no Brasil, parece-nos que a Igreja adotou uma postura mais cautelosa quanto à questão, visto haverem vários e complexos empecilhos ao seu estabelecimento no Brasil, que lhe chamavam mais a atenção e lhe cobravam esforços de “sobrevivência” até então. A Constituição de 1824 proibia a pregação do evangelho a portugueses e a brasileiros, sob pena de expulsão do país; os templos protestantes não podiam ter aparência externa de templos; estrangeiros não podiam se envolver com questões do império.

Mesmo assim, o Presbitério do Rio de Janeiro, único existente no país à época, deliberou afirmar a sua posição abolicionista em 1886. Entristece-nos o fato de que essa decisão viesse tão tarde, visto que várias leis anti-escravistas já vinham sendo aprovadas desde 1850 e o movimento abolicionista ganhara mais força no Brasil desde o fim da Guerra do Paraguai em 1870. Mas vale lembrar, que o primeiro missionário presbiteriano só chegou ao Brasil em agosto de 1859 e o Mackenzie só foi fundado em outubro de 1870! Em 13 de Maio de 1888 a Igreja Presbiteriana do Brasil possuía menos de 40 igrejas implantadas, espalhadas em todo o território nacional, com pouquíssimos membros ativos.

         A Igreja foi aberta à participação dos escravos desde o princípio, simpática ao movimento abolicionista e manifestou o seu regozijo publicamente e documentalmente quando a abolição veio. Preocupou-se não somente com a abolição, mas também com a educação dos negros após a mesma procurando evitar o segregacionismo racial. Na formação de seu primeiro Sínodo em setembro de 1888, quatro meses após a abolição, um dos presbíteros delegados à reunião era o negro Antônio da Silva Rangel, representante da Igreja de Mogi-Mirim (veja na foto acima, à direita).

         Essa tem sido a nossa postura desde o princípio e nossa oração é para que a Igreja Presbiteriana do Brasil se mantenha firme na luta contra os pecados sociais e no anúncio do evangelho redentor a todas as etnias.

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Leia mais em: FIDES REFORMATA XV, Nº 2 (2010): p.43-66. "A Igreja Presbiteriana do Brasil e a Escravidão - Breve Análise Documental (1859-1888). Por Helio O. Silva.


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