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Os Pastores de Genebra no Brasil

Os Pastores de Genebra no Brasil

Na quarta-feira, dia 10/03/1557 dois pastores enviados pessoalmente por João Calvino e acompanhados por mais 12 operários genebrinos com o objetivo de plantar a fé reformada no Brasil, aportaram na Ilha de Seregipe (hoje Ilha de Villegaignon), Rio de Janeiro e foram recebidos pessoal e calorosamente pelo vice-almirante Nicolas de Villegaignon, líder da França Antártica no Brasil. Após ler as cartas de recomendação dos pastores e acompanhantes, solicitou que os mesmos organizassem a igreja francesa no Brasil de acordo com o regulamento e a disciplina da igreja de Genebra. Ficou decidido que os pastores se revezariam nas pregações que aconteceriam diariamente e duas vezes aos domingos. À noite, numa pequena sala, foi celebrado o primeiro culto reformado das Américas, tendo como pregador, O Rev. Pierre Richier, com base no salmo 27.4. Depois do culto, todos tomaram sua primeira refeição brasileira: Farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, como os indígenas faziam.

No domingo, 21/03/1557 houve a celebração da primeira ceia conforme a liturgia reformada no Brasil. O próprio Villegaignon participou da celebração e fez uma das orações no culto. Todavia, após a celebração, Villegaignon, antes favorável à liturgia reformada voltou-se contra os pastores calvinistas questionando o sentido espiritual da presença de Cristo na ceia bem como a simplicidade do rito de celebração. Richier foi injuriado publicamente e seus sermões criticados veementemente. Por causa disso, no início de Junho, o Rev. Chartier foi enviado de volta à França para colher opiniões dos teólogos e de Calvino sobre a questão. Não retornou mais ao Brasil. Em outubro, Villegaignon expulsou definitivamente os huguenotes reformados do Brasil, pedindo aos magistrados franceses que processassem os demais, queimando-os na fogueira como hereges e martirizando três deles (09/02/1558).

Quem foram esses pastores que pregaram a fé reformada no Brasil?
Pierre Richier, doutor em teologia e ex-frade carmelita, convertera-se ao protestantismo e, após haver feito seus estudos em Genebra, foi enviado ao Brasil em 1556 com 50 anos de idade. Expulso, retornou no ano seguinte, sendo então enviado a Rochelle, onde organizou a Igreja e Ali publicou, primeiro em latim (1561) e depois em francês (1562), A Regulação às Loucas Fantasias, às Execrareis Blasfêmias, Aos Erros e às Mentiras de Nicolas Durand de Villegaignon. Morreu a 8 de março de 1580.

Guillaume Chartier, natural de Vitré – Bretanha, estudou em Genebra e aceitou com muito ardor o cargo de missionário da Reforma da América. Tinha 30 anos quando embarcou para o Brasil. Nicolas des Gallars, tendo-o visto e ao seu companheiro na ocasião de embarque, escreveu a Calvino que eles “partiam animados com toda avidez”. Posteriormente ao insucesso desta expedição, nada mais se sabe de Chartier senão que foi capelão de Jeanne d’Albret.

No final de Março de 1557, Richier escreveu uma carta a Calvino, na qual descreve a missão de evangelizar os indígenas brasileiros da seguinte forma: “...E o que é a mais perniciosa de todas as coisas, não sabem se Deus existe. Estão muito longe de observar a Sua lei ou admirar o Seu poder e vontade, por isso não temos esperança de ganhá-los inteiramente para Cristo, embora seja realmente a coisa mais importante de todas... Mas o grande obstáculo é a diversidade de idiomas. Acrescente-se que não temos Intérpretes fiéis a Deus. O mérito de nossa obra consiste para nós em refrear o passo e esperar pacientemente que os adolescentes aprendam a língua dos índios. E já alguns vivem entre eles. Praza a Deus que fique aquém deles qualquer perigo para as suas almas. Desde que o Altíssimo nos impôs esta tarefa, devemos esperar que esta terra se torne a futura possessão de Cristo.”

Senhor! Usa-nos, para fazer o Brasil pertencer inteiramente a Cristo! Amém.
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Fontes: A Tragédia da Guanabara, Jean Crespin, ECC, p. 9-15,20,29-36. / Carta de Richier a Calvino; Viagem à Terra do Brasil, Jean de Léry, nota134, Itatiaia.

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