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Aprendendo Com o Sofrimento - Isaías 39.9-20



Texto: Isaías 39.9-20  (20/01/2003)
Tema: Aprendendo com o Sofrimento.
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Introdução:
         Qual seria a nossa reação ao receber a notícia segura de que morreremos amanhã?

Contexto: 
           Deus mandou esse recado para Ezequias através do profeta Isaías (38.1).
         A reação de Ezequias foi a de virar o rosto para a parede e orar ao Senhor pedindo mais tempo (v.2). Deus ouviu a sua oração por meio de um sinal. O relógio de Acaz retrocedeu dez graus (v.8). 10º corresponde a vinte minutos no relógio.
Apenas 6 anos após Ezequias começar a reinar em Judá, Israel foi levada para o cativeiro assírio (II Rs 18.1). Ezequias começou a reinar com apenas 25 anos de idade (II Rs 18.2) e reinou por 29 anos em Jerusalém. 25 + 29 = 54 anos. A Escritura nos diz que Ezequias viveu mais 15 anos após essa enfermidade. Portanto, quando Isaías foi enviado a ele para dar essa triste notícia ele tinha 39 anos!

Proposição:
         O cântico de Ezequias nos mostra o que ele aprendeu com a sua enfermidade mortal e com o livramento de Deus. vejamos isso em quatro afirmações do texto:

I.          Ezequias aprendeu a não confiar no seu próprio vigor  v.10-14.

1.     “Eu disse”.
A expressão de Ezequias reflete a nossa atitude diante da vida, de achar que nós controlamos a vida e que nós decidimos o nosso destino. Porém o oposto é que é a verdade. Não temos controle sobre o futuro. Podemos nos encontrar com a morte a qualquer instante. Seja numa enfermidade que nos acomete, como um câncer que não se manifestou e de repente aparece de uma hora para outra e nos deixa completamente fragilizados e pegos na “teia de aranha” de um tratamento médico caro e imprevisível por muitos anos, ou até mesmo por poucos meses ou dias. Quem poderia prever?
         Ou talvez um acidente de automóvel numa saída para passeio ou pescaria. De repente aparece um cidadão bêbado ou desatento ou irresponsável mesmo e choca-se contra você. Quem poderia prever a morte; ou vários ossos quebrados com seqüelas permanentes.
         Ou talvez um assalto em casa ou na rua. Um tiro disparado. A morte prematura ou uma marca dolorida no corpo pelo resto da vida estampada numa deficiência física. Quem poderia prever?
         Não estamos fazendo uma apologia da catástrofe, mas apenas colocando em evidência uma realidade possível, que ilustra de forma até mesmo trágica a verdade de que não controlamos o nosso amanhã, ele está completamente nas mãos de Deus que nos protege e que também permite a tragédia e a amargura nas nossas vidas.

2.     Pleno vigor X roubado estou.

Ezequias estava vivendo um grande momento em sua vida. Ele se rebelara contra o rei da Assíria e Deus protegera Judá da invasão de Senaqueribe. Seu exército voltou do cerco a Jerusalém sem atirar uma única flecha contra os seus muros. Cap. 37.38, nos diz que Senaqueribe foi morto por seus próprios filhos dentro da casa de seus deuses, os quais ele havia dito serem mais poderosos que o Senhor. Suas ameaças deram em nada frente à proteção maravilhosa de Deus. Ezequias estava satisfeito consigo mesmo, com Deus e com o seu reino.

Ezequias percebeu de repente, sem tempo para fazer qualquer coisa, que sua vida estava no fim. O mais desesperador de tudo isso é que fora o próprio Deus quem mandara o recado! Eu não posso acreditar nas previsões das cartomantes, mas como recusar a crer no que o próprio Deus diz?


3.     Todos os vínculos serão quebrados na morte.
·        Com os homens.
·        Com Deus.

Ezequias pensa nos relacionamentos que lhe são caros; Esposa, filhos e Amigos. A morte quebra todos esses vínculos. Mas Ezequias também pensa em todo trabalho que realizou nas reformas religiosas que estava empreendendo em Judá para agradar a Deus. Será que Deus o rejeitava? Será que temos sempre de teimar achando que tudo de ruim que nos acomete nega nosso relacionamento com Deus e seu amor por nós?

                  4.     O tecelão e a urdidura.
A mesma figura do Salmo 139.13 (tu me teceste). Deus é o tecelão que trabalha como um tapeceiro entrelaçando os pontos e formando a nossa vida como um tapete cheio de desenhos e cores e dando-lhes propósito. O tapeceiro escolhe como melhor usar os fios. Ele pode rejeitar um ou outro. Ele pode escolher um ou outro.

5.     “Ó Senhor, ando oprimido”.
Diante da amargura e o infortúnio, apenas a oração é o verdadeiro refúgio. Se Deus controla a vida, é a Ele que devemos nos dirigir para pedir mudanças.
         A resposta de Deus é decisiva. A resposta de Deus é final.

II.               Ezequias aprendeu a confiar na promessa de Deus  (v.15-16).

1.     Como prometeu, assim fez.
A promessa de Deus é fonte de consolo e segurança, pois ela nunca falha.

2.     Tranqüilidade até à morte.

Quando Deus curou a Ezequias, ele aprendeu que o resto de seus dias estavam assegurados. O medo da morte, por um lado, e a futilidade da autoconfiança, por outro lado, não eram mais o padrão pelo qual se deveria conduzir a vida, mas pela confiança na providência de Deus. A sua promessa divina é a fonte da segurança.


3.     A vontade de Deus é soberana.

Ezequias finalmente percebe a soberania da vontade de Deus. As suas “disposições” refletem os decretos de seu governo. Por meio delas os homens vivem; delas todos nós dependemos.

A dependência da vontade de Deus é a base do pedido de cura e plena restauração na convalescença. Esse cântico de Ezequias foi composto quando recebeu a promessa da cura e não depois dela efetuada por Deus. Isso demonstra a segurança de que a vontade de Deus e sua promessa produzem segurança na dependência, mesmo quando a enfermidade não foi ainda dissipada.
         É preciso sempre submetermo-nos à vontade de Deus. Pois ela é:
a)     Soberana e justa.
b)    Decretiva e distributiva.
c)     Santa e verdadeira.

III.           Ezequias aprendeu a encontrar paz na amargura  (v.17).

1.     Foi para a minha paz.

De alguma forma, Ezequias viu que o bom estava por trás do trágico e amargoso. Aprendeu que Deus transforma o mal em bem; e que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28).

         Os três verbos a seguir estão no passado, e expressam as convicções de Ezequias de que Deus o tratou por inteiro e não somente de sua enfermidade física. Preocupados como somos pelas coisas materiais e físicas, muitas vezes Deus usa desses momentos de fragilidade para se revelar a nós e nos mostrar que a vida implica em muito mais realidades do que estamos dispostos a ver e a investir.
         Deus o conduziu através da amargura à paz.
2.     Amaste a minha alma.
3.     Livraste da morte.
4.     Lançaste para trás de ti todos os meus pecados.

Deus ama, livra e perdoa. Ao tratar com nossa saúde, também trata com nossa alma e com nossos pecados.

         Não sabemos e nem podemos afirmar seguramente que a enfermidade de Ezequias era fruto de pecado, mas podemos ver que Ezequias enxergou na cura a atuação da misericórdia de Deus.

IV.       Ezequias aprendeu que o sentido da vida é viver para louvar a Deus  (v.18-20).

1.     A sepultura não louva a Deus.
·        Não louva.
·        Não adora (glorifica).
·        Não é fiel.

No texto original há um “pois” oculto na tradução.[1] O v.18 completa o sentido da razão da paz que procedeu da amargura. Ezequias aprendeu que o verdadeiro sentido da vida é viver para o louvor da glória de Deus. Deus criou o homem para o louvor de sua glória (Is 43.7).


2.     Somente os vivos louvam a Deus.

Nós não sabemos com certeza como é a permanência no estado intermediário, entre esta vida e a posterior ressurreição. Contudo o ponto de vista de Ezequias é que estando na sepultura não há louvor e adoração. Não há serviço prestado a Deus. Assim entendemos que a vida é a oportunidade para vivermos para Deus. É o tempo da adoração. É o tempo do serviço. Porque antes que o dia termine há muito que pode ser feito que agrada a Deus!


3.     Viver para Deus é falar dele aos filhos.

Como no Salmo 78, não podemos encobrir a nossos filhos o entendimento correto a respeito do sentido dessa vida. As crianças precisam aprender desde cedo a colocar em Deus a sua confiança e não nas coisas passageiras.

                 4.     A gratidão é demonstrada através da música.

O próprio rei vai tocar na casa de Deus, não sozinho, mas acompanhado dos demais adoradores.

 Conclusão:

1.     Que direi? (v.15).
            Quando Deus nos livra, o que podemos dizer? Só podemos dar testemunho do que vivemos e aprendemos durante a amargura.

      2.     Foi para a minha paz (v.17).
                A paz não é um produto de mercado que se compra e que se vende, é o resultado da presença de Deus nas nossas vidas. Ele nos dá a paz, é fruto do seu Espírito Santo agindo e habitando em nós.
         Você pode sim encontrar a paz em meio à amargura, pois a paz é algo que Deus pessoalmente produz e coloca dentro de nós (Sl 4.8).

       3.     O Senhor veio salvar-me (v.20).
O Senhor o salvou, tratou pessoalmente com ele (veio) e ele não poderia mais enxergar a vida como antes. A nossa esperança repousa inteiramente nessa verdade: Deus veio até nós. Ele nos salvou!
         Deus veio até nós em Cristo e se ofereceu na cruz para a nossa cura plena. Como você pode querer enxergar a vida de outra forma que não seja para expressar gratidão pelo que fez por nós na cruz?
          Essa expressão nos convida agora a pensar em como enxergamos a nossa vida e a tomar uma decisão de mudança. É hora de decidir viver inteiramente para a glória de Deus!




[1] W. Ficth, “Isaías”, em NCB, vol. II,  p.717.

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