Cara irmã A.L:
Agradeço o envio do video sobre o dízimo.
No entanto, o palestrante do vídeo levantou várias perguntas acusatórias às quais não deu resposta alguma e depois passou a acusar o recebimento de dízimos como prática mentirosa e digna do juízo divino. Ele nem sequer abriu a Bíblia para responder às perguntas que fez!
A pergunta que faço é a seguinte. Se a Bíblia é composta de Antigo e Novo Testamento, qual a verdadeira relação entre os dois? O Novo Testamento é mais inspirado que o Antigo? O Antigo Testamento é menos Palavra de Deus que o Novo Testamento?
Onde que no Novo Testamento foi abolida a prática de dizimar? Jesus não a proibiu em Mateus 23.23 e nem o autor de Hebreus em Hebreus 7.1-3.
Nós calvinistas ensinamos que há uma relação de continuidade e descontinuidade entre o Novo Testamento e o Antigo. Cremos que o Antigo Testamento continua cumprindo o seu papel de guia para a santidade cristã. O princípio da contribuição financeira de acordo com a renda é permanente e santificado por Deus na Bíblia toda (1 Coríntios 16.1ss.; 2 Coríntios 8 e 9) e a prática de dizimar não a fere em momento algum, antes, pelo contrário, a confirma.
Os dízimos no Antigo Testamento e as ofertas do Novo Testamento serviam a pelo menos 4 propósitos claros:
(1) O sustento dos levitas e sacerdotes (Nm 18.21-24; Dt 14.27).
(2) Era usado para auxílio aos necessitados (Dt 14.28-29).
(3) Fazia parte da celebração de uma refeição pelas famílias do povo de Deus, cujo objetivo era ensinar o temor de Deus (Dt 14.22,23).
(4) A manutenção da casa de Deus (Ml 3.10) tais como reformas, limpeza, reposição de peças e ornamentos etc.
A igreja sempre recebeu dízimos e ofertas e em alguns momentos a prática foi abandonada mais por causa de apostasia da igreja do que por causa de o ensino ser errado. Isso acontecia também frequentemente no Antigo Testamento. Ezequias e Josias tiveram de restaurar a prática da entrega dos dízimos e das ofertas do templo porque os reis impios de Judá e Israel as haviam abandonado e proibido (2 Cr^nicas 31). O mesmo fez Neemias quando Judá retornou do exílio babilônico (Ne 10). Os rabinos do período interbíblico se queixavam frequentemente da infidelidade do povo de Israel quanto a entrega dos dízimos.
A entrega de dízimos no Antigo Testamento obedecia ao calendário das colheitas agrícolas de Israel e da reprodução dos rebanhos, porque Israel era uma nação de pastores, artesãos e pequenos produtores rurais. Não haviam médicos de profissão; nem enfermeiros, nem desportistas, advogados, empresários, nem aplicadores na bolsa de valores; nem diaristas; nem telefonistas, nem palestrantes de marketing; nem técnicos de informática, professores; diretores etc, etc. Cada um destes percebe sua renda de forma diferente. O sistema financeiro mudou completamente daquela época para o nosso tempo.
Todavia, os princíios de contribuição bíblicos continuam os mesmos e válidos: Contribuir de acordo com a renda, de acordo com a forma dos recebimentos pessoais. A prática do dízimo não fere esse princípio e goza de promessas divinas ligadas à sua prática. O que fere esse princípio são as práticas das ofertas como moeda de troca com Deus para receber curas e milagres. A IPB, igreja na qual sou pastor nunca adotou nem segue essa prática. Os pastores que ensinam as práticas mercantis do neopentecostalismo, quando denunciados formalmente são disciplinados.
Ao dispor, amém.
abs