Helio O. Silva = 22/06/2012
João Calvino
e a Música na Igreja
É dentro do longo capítulo sobre a oração que Calvino
trata do uso apropriado da música cantada na igreja (Institutas, Livro III, cap. XX.31,32). Isso quer dizer que para
Calvino, as músicas são as nossas orações cantadas a Deus, como são os Salmos
nas Escrituras.
Calvino, seguindo de perto o pensamento de Agostinho
de Hipona, afirma que o canto no culto não é somente “um ornamento que dá maior graça e dignidade aos mistérios
que celebramos, senão que também serve muito para incitar os corações e
inflamá-los em maior afeto e fervor para orar”. Para ele, nossos corações devem se guardar de estarem mais atentos à
melodia que ao sentido espiritual das palavras cantadas. E conclui seu
pensamento dizendo que “usado com moderação, não há dúvida que o
canto é uma instituição muito útil e santa”.
Portanto é errado concluir que Calvino não gostava de
música na igreja. Ele era contra o uso que os papistas faziam dela, pois eram
feitas somente para o “deleite dos ouvidos” e tirava a atenção das Escrituras.
Calvino mesmo compôs um pequeno saltério com 13 hinos
e salmos em 1539, para sua congregação de refugiados em Estrasburgo e contratou
posteriormente a Louis Burgeois (importante compositor da época) para ir a
Genebra com um duplo propósito: Escrever a música para o novo saltério, e
ensinar música na escola de gramática. Além dele, faziam parte dos compositores
de Genebra: Clément Marot, Theodore de Beza e Claude Goudimel.
Os pressupostos básicos de Calvino eram:
(1) Que a música (melodia) deveria ser composta
para a letra e não o oposto. De preferência a Igreja deveria cantar a
Palavra, por isso sua predileção pela metrificação dos salmos.
(2) Que a música conduzisse a congregação a uma
verdadeira adoração.
(3) Que a música
fosse simples. Todos cantavam em uníssono e todos cantavam a mesma música.
Calvino não fazia uso da música coral por causa dos
abusos do catolicismo. As peças dos corais eram compostas em língua que o povo
não entendia (latim) e eram muito complexas para a participação da congregação, além do
que, muitas das vezes sua letra não era sacra, mas secular. Seu objetivo era mais impressionar que santificar. Todavia, 50
anos após a morte de Calvino, com o surgimento de compositores calvinistas de
maior calibre o coral e a música instrumental retornaram aos templos das
igrejas reformadas.
A intenção de Calvino era primeiro purificar a Igreja
do abuso e depois ensinar uma adoração musical mais comprometida e submissa às
Escrituras, uma vez que para Calvino, a música ser apenas bonita ou combinada
com palavras religiosas não contribuiria necessariamente para a adoração. Ele
cria que não nos reunimos para o entretenimento, mas para o proveito
espiritual. A música no culto é serva de elementos essenciais, tais como a
pregação da Palavra, as orações e a ministração dos sacramentos.
Segundo
alguns pesquisadores (Bruinsma e Faustini), Calvino cria ainda que (4) A música deveria ser alegre e com um ritmo vigoroso.
Alegre e vigoroso não quer dizer libertino e barulhento! Martin Bucer observou
certa vez como era agradável ver a congregação de refugiados pastoreada por Calvino em Estrasburgo
cantar. Os salmos metrificados de Genebra foram exportados para a Escócia e
Inglaterra, onde a rainha Elizabeth os chamava de “geneva jiggs”; chegando ao Brasil através do casal Kalley em 1861,
com a publicação do Hinário Salmos e
Hinos.
Os
Puritanos desenvolveram no século XVII o chamado Princípio
Regulador do Culto, com o qual insistiam que somente aquilo que era
ensinado claramente nas Escrituras ou dela fosse claramente depreendido,
poderia ser praticado nos cultos cristãos. Isso valia para a doutrina, para a
liturgia e para a música.
Conclui-se
que os calvinistas apreciam uma boa música, seja sacra ou secular, mas desde
que essa música seja um reflexo verdadeiro e apropriado do ensino das
Escrituras, jamais depondo contra ela, jamais
subvertendo seus princípios inspirados por Deus e, especialmente, jamais
obstruindo a santidade de nossa conduta e
adoração.
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Bibliografia
Juan Calvino, Instituicion de La Religión Cristiana, Livro III.20.32, p.702. / João
Faustini, “Calvino e a Música”, Caderno
de Estandarte, A Reforma Protestante, p.38-41. / Henry Bruinsma, “Juan Calvino y la Musica
Cristiana”, Reforma Siglo 21, vol. 3, nº 3, Novembro de 2001, p.24-25. / Thea
B, van Halsema, João Calvino Era Assim,
p.?