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O Caminho da Santidade (Aula 16)


Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Na Dinâmica do Espírito
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Aula 16 = O Caminho da Santidade 15/08/2010
Na Dinâmica do Espírito. J. I. Packer; Vida Nova, p. 100 – 117.
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INTRODUÇÃO: A maior necessidade do mundo é a santidade pessoal de cada cristão. Isso porque a imoralidade (permissividade, secularismo, mundanismo) cresce em todas as áreas e invade também as igrejas. É preciso reconsiderar nossas atitudes e voltar à prática bíblica de uma vida moral sadia. Quais os princípios básicos dessa santidade?

I) A NATUREZA DA SANTIDADE É TRANSFORMAÇÃO ATRAVÉS DE CONSAGRAÇÃO.
"Hagios" = Santo, que quer dizer “separado para Deus (serviço)” e aceito por Deus para o Seu uso. "Osiotês" = Retidão e pureza (por dentro e por fora), diante de Deus.

NA Bíblia, o conceito de santidade é relacional. Ser santo é nutrir um relacionamento de proximidade com Deus. a esse cultivo chamamos de consagração. A consagração é o elemento ativo da santificação, pois separação é EM DIREÇÃO A Deus. A consagração começa no arrependimento contínuo dos nossos pecados, e prossegue na transformação contínua do nosso viver de acordo com a imagem de Jesus Cristo (II Co 3.18 -4.4). A proposta bíblica é que quanto mais amarmos o Senhor, consequentemente amaremos mais aos outros.

II) O CONTEXTO DA SANTIDADE É JUSTIFICAÇÃO ATRAVÉS DE JESUS CRISTO.
Todo o processo de santificação se baseia no perdão e aceitação de deus, que nos foi dado em Jesus Cristo, quando morreu na cruz. A alegria do cristão é a salvação pela cruz. O mais santo, dos santos, sempre será um pecador perdoado. À medida que a santidade cresce, mais percebemos nossa indignidade diante de Deus.
Exemplo: Paulo
= I Co 15.9 (54 d.C.) - Menor dos apóstolos.
= Ef 3.8 (61 d.C.) - Último de Todos os santos.
= I Tm 1.15 (65 d.C.) - Principal dos pecadores.
Isso não implica em uma auto-estima baixa, mas num real e verdadeiro autoconhecimento (Rm 7.25). O que é santidade, senão o “aumento de sensibilidade para o que Deus é, e conseqüêntemente, uma avaliação mais clara da própria pecaminosidade e das limitações particulares, e daí um reconhecimento intensificado da constante necessidade da misericórdia perdoadora e purificadora de Deus”(p. 103). A verdadeira santidade jamais terá justiça própria, pois isso é farisaísmo. Nossa justiça é a justiça de Cristo, a nós imputada por Deus em cristo (Fp 3.9-11).

III) A RAIZ DA SANTIDADE É CO-CRUCIFICAÇÃO E CO-RESSURREIÇÃO COM JESUS CRISTO.
Romanos 6 nos ensina que todos que têm fé em Cristo foram crucificados com Ele. Isso quer dizer que foi dado um fim à vida dominada pelo pecado, e implantada uma nova vida. Fomos ressuscitados em cristo, por isso nossa vida deve ser diferente, uma novidade (v.6). Assim entendemos que o novo nascimento é uma destronação no coração para o estabelecimento de uma nova vida com Deus, seu novo Senhor.
Santidade é aprender ser na vida diária o que já somos no coração redimido por Cristo. Santidade é a marca do coração que nasceu de novo, assim como o pecado é a marca daquele que não nasceu outra vez em Cristo (II Co 5.17). Amar e querer a Deus só é possível ao coração regenerado. O pendor da carne é inimizade contra Deus (Rm 8.7).
O cristão só poderá sentir ou ter auto-realização quando a santidade for o seu desejo mais profundo, porque a sua nova natureza o incitará a buscá-la. Não querer a santidade é prova de não ter nascido de novo.

IV) O AGENTE DA SANTIDADE É O ESPÍRITO SANTO:
A habitação do Espírito Santo em nós é o requisito básico de sua atuação, pois é o selo que nos marca como salvos e pertencentes a Cristo (Ef 1.14; 4.30). O Espírito nos leva a querer e a fazer a boa vontade de Deus (Fp 4). Ele cria em nós o propósito de obediência e nos sustenta na execução do mesmo. Quando obedecemos aos seus “impulsos” criamos e desenvolvemos hábitos corretos diante de Deus, que moldam nosso novo caráter cristão. “Semeie uma ação, colha um hábito; semeie um hábito, colha um caráter”. Observe que este é o método de atuação primário do Espírito (II Co 3.18), de um estado de glória para outro. Seu objetivo é frutificar em nós e através de nós (Gl 5.22-24).

Duas observações importantes:
1ª) O Espírito opera por meios. Eles podem ser objetivos: Verdade bíblica, ceia, oração, comunhão, adoração. Eles podem ser subjetivos: Pensar, ouvir, admoestar-se, questionar-se examinar-se, compartilhar com outros o que está no coração. É preciso conscientizarmo-nos de estes meios são muito mais eficazes e duradouros que intervenções sobrenaturais (sonhos, visões, profecias). Estes últimos existem sim, mas não são tão comuns quanto desejam alguns. “A formação de hábitos é o meio normal pelo qual o Espírito nos leva para a santidade” (Packer).

2ª) Hábitos santos não são produtos naturais, mas obra do Espírito. Toda disciplina e esforço precisam ser abençoados pelo Espírito Santo, senão darão em nada. Toda tentativa de colocar em ordem a vida espiritual deve estar embebida em constante oração. A oração nos leva a reconhecer a nossa incapacidade, bem como a reconhecer a soberania do Espírito. Santidade através de formação de hábitos não é auto-santificação, mas entender como o Espírito age e entrar na sua dinâmica (andar como Ele quer).

V) A EXPERIÊNCIA DE SANTIDADE É EXPERIÊNCIA DE CONFLITO.
Do movimento de “Batalha Espiritual” podemos aprender muitas verdades importantes, mas também precisamos evitar alguns excessos perigosos a uma fé sadia. Contudo é ponto pacífico que a vida de santidade tem três inimigos reais: O mundo, a carne e o diabo. Por essa razão, a batalha espiritual tem muito a ver com a santidade, porque toda a experiência de santidade que o cristão possa viver e nutrir será vivida e realizada num contexto de muito conflito.
(1) A carne milita contra o Espírito (Gl 5.17).
(2) O diabo anda em derredor querendo nos devorar (1Pe 5.8).
(3) Não devemos amar o mundo, porque o que há no mundo não procede do Pai, e o mundo passará (1Jo 2.15-17).

Nós temos dois inimigos externos e um interno. É criança aquele cristão que pensa que não precisa tomar cuidado ao enfrentá-los, pois tem de lidar com pelo menos três implicações reais:
(1) A realidade da guerra (carne e Espírito militam).
(2) A necessidade de esforço (vigiar e orar para não cair na tentação).
(3) A vida santa nesse mundo é incompleta (enfrenta oposição).
Essa oposição produz:
(a) Tentações = oferecimento do pecado.
(b) Ilusões = erros de percepção.
(c) Distrações = aquilo que tira a atenção.

É por isso que a tese de santidade “total” ou “angélica” defendida por John Wesley só pode ser concebida para o céu. Além do mais dizer que não pecamos mais, aqui na terra, é chamar a Deus de mentiroso e negar a sua palavra (1Jo 1.10).
Isso não quer dizer que não termos vitórias duradouras ou que lutamos sozinhos. O Espírito Santo nos ajuda cotidianamente e nos dá inúmeras vitórias, contudo não podemos negligenciar a fragilidade de nossa natureza pecaminosa.
Mesmo quando Paulo declara vitórias, não deixa de mostrar a sua dificuldade (Fp 3.13,14). O prêmio da soberana vocação é para aquele que se esforça na corrida (1Co 9.23-27). Qualquer expressão de santidade em nossa vida estará debaixo de fogo cruzado intenso. Foi assim com Cristo, o qual devemos considerar atentamente (Hb 12.3,4). O autor dessa epístola nos fala para literalmente “pensem fixamente nisso”. Se foi assim com o nosso Salvador e Senhor, também o será conosco: “Vigiai e orai para que não ENTREIS em tentação” (Mt 26.41).
A saída da tentação é sempre difícil, é como se esgueirar por uma garganta apertada num desfiladeiro. “Livramento” (ekbasij) em 1 Coríntios 10.13 significa “caminho de saída”. É figura de um exército preso nas montanhas e que encontra uma saída por um desfiladeiro.

VI) A REGRA DA SANTIDADE É A LEI REVELADA DE DEUS.
O evangelho nos conclama a uma vida nova caracterizada por retidão e justiça (Ef 4.23,24). No texto a palavra grega é uma só “hesiotês”. A justiça (interna) se manifesta em retidão (externa). Significa obediência prática à lei de Deus. A Lei são os mandamentos e preceitos de Deus, que refletem o seu caráter e que Cristo praticou como homem no nosso meio. A justiça faz parte da imagem de Deus no homem, perdida na queda e restaurada na graça.
Ter a lei de Deus como regra é diferente de legalismo. O legalismo é uma suposição de que os requisitos da lei podem ser reduzidos a regras padronizadas para todas as situações indistintamente. Significa também supor que a observância formal dessas regras podem salvar ou conseguir certo grau mais elevado da graça divina. Jesus destruiu o primeiro ao mostrar que a obediência ou a desobediência à lei são questões de desejo e propósito antes mesmo de se tornarem atos práticos. O segundo é inutilizado por Paulo através do ensino da justificação pela fé somente. Os evangélicos contemporâneos têm mais êxito em lidar com o segundo e fracassam contra o primeiro (p.109).
O estabelecimento de regras rígidas reduz a liberdade cristã pessoal e não produz santidade, mas alienação. Por outro lado, negar qualquer papel à lei por medo do legalismo pode gerar outro pecado ainda mais grave, que é a licenciosidade (uma vida fora da lei e sem qualquer regra). A Lei moral, como guia para a santidade, encontrada nos 10 mandamentos e aplicada em todo o Antigo Testamento, jamais foi abolida e deve ser obedecida (Mt 5.18,19). O cristão guarda a lei por gratidão em amor (Rm 12.1). Obedecemos não como um pecador tentando ganhar a salvação, mas como filhos de Deus gratos e contentes pela salvação já recebida do Pai (I Co 9.21). O descuido moral é carnalidade espiritual que nega a santidade (I Co 3.1-3).

VII) O CERNE DA SANTIDADE É O ESPÍRITO DE AMOR.
O amor é fruto do Espírito, o resumo da lei e sem ele o cristão nada é (Gl 5.22; Mt 22.35-40; I Co 13.1-3). O amor não essencialmente um sentimento de afeição, mas uma forma de comportamento. A identidade do amor está no “dar-se” como Cristo fez por nós (I Jo 3.16-18; 4.7,10,11). Seguir o exemplo de Cristo é caminhar em santidade. Santidade dura e in sensível é uma contradição intrínseca, porque a natureza da santidade é amar a Deus e ao próximo (Mt 22.37; Dt 6.5; Sl 18; I Co 13.4-7; Lc 10.29-37). Sem amor, nada que se propõe a ser chamado de santidade será algo na presença de Deus.
Somos como um grande shopping em reforma e ampliação. Os negócios não podem parar e os transtornos das reformas são incômodos, mas temporários. O arquiteto elaborou um projeto de etapas e o mestre de obras competente vai realizando o seu trabalho. A cada etapa concluída estampa-se a satisfação e a aprovação do projeto como vai sendo realizado. É assim que Deus nos santifica.

Aplicações:
1. Santificação não é um processo confortável, e não se deve esperar tranqüilidade interior enquanto ele se processa.

2. Devemos ter consciência do andamento da obra. Como se exibíssemos tabuletas dependuradas em nós com a sigla: PFTPDNTSOEMA: “Por favor, tenha paciência, Deus não terminou sua obra em mim ainda”. Cristo ESTÁ SENDO formado em nós (Gl 4.19).

3. Santificar-se é ser guiado pelo Espírito (Rm 8.14; Gl 5.18). Guiar significa “orientar”, não no sentido de revelar algo, mas no sentido de buscar, praticar e apegar-se à santidade para ser reproduzida em nosso caráter e nossas ações.

4.Santidade é prioridade para cristãos saudáveis, Deus nos escolheu para sermos santos (Ef 1.4); sem ela ninguém verá o Senhor (Hb 12.14); A santidade nos torna instrumentos úteis para a glória de Deus (II Tm 2.21).

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