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Aula 23 = O Conceito Bíblico de Pacto.


Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Quem é o Homem Para Que Dele Te Lembres?
Professores: Pr. Hélio O. Silva e Presb. Baltazar M. Morais Jr.
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Aula 23 = O Conceito Bíblico de Pacto ou Aliança (25/09/2011).
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1. NO VELHO TESTAMENTO a palavra hebraica para aliança é sempre berith. A opinião mais geral é que sua origem vem do verbo hebraico barah, “cortar” (Gn 15.17). Outros acreditam que deriva da palavra assíria beritu, “ligar”, “atar”. Isto levaria logo a entender a aliança como um laço. A palavra berith pode indicar um acordo mútuo voluntário (duas partes em pé de igualdade), mas também uma disposição ou um arranjo imposto por uma parte a outra (em que uma parte é subordinada à outra). Naturalmente, quando Deus estabelece uma aliança com o homem, este caráter subordinativo fica muito evidente pois Deus e o homem não são partes iguais. Deus é o Soberano que impõe as Suas ordenanças às Suas criaturas.

2. NO NOVO TESTAMENTO. Na Septuaginta a palavra berith é traduzida por diatheke em todas as passagens em que ocorre, exceto em Dt 9.15 (martyrion) e 1 Rs 11.11 (entole). Diatheke não é a palavra grega habitualmente empregada para designar aliança, mas, na verdade, indica uma disposição ou arranjo e, conseqüentemente, também um testamento. A palavra ordinariamente utilizada para aliança é syntheke. Por que os tradutores evitaram o uso de syntheke e a substituiram por outra que denota disposição e não acordo? A razão é que no mundo grego a idéia de aliança expressa por syntheke baseava-se tão amplamente na igualdade legal das partes que não podia, sem considerável modificação, ser incorporada no sistema bíblico de pensamento. O conceito de que a prioridade pertence a Deus no estabelecimento da aliança, e de que Ele impõe soberanamente a Sua aliança ao homem, estava ausente da palavra grega usual. Assim a palavra diatheke recebeu novo significado, quando se tornou veículo da revelação divina nas escrituras. Na versão de Almeida, Edição Revista e Corrigida (ARC), ora a palavra é traduzida por “pacto”, ora por “concerto”, ora por “aliança”, ora por “testamento”. Na Edição Revista e Atualizada (ARA), é normalmente traduzida por “aliança” e, em Hb 9.16, 17, por “testamento”. O fato de várias traduções do Novo Testamento usarem “testamento” em lugar de “aliança” em tantas passagens deve-se provavelmente a três causas: (a) o desejo de acentuar a prioridade de Deus na transação: (b) a suposição de que a palavra deve, quanto possível, ser traduzida em harmonia com Hb 9.16, 17; e (c) a influência da tradução da Vulgata Latina, que uniformemente verteu diatheke para “testamentum”.

O conceito de aliança desenvolveu-se na história antes de Deus fazer uso formal do conceito na revelação da redenção. Foram feitas alianças entre os homens muito tempo antes de Deus estabelecer a Sua aliança com Noé e com Abraão, e isso preparou os homens para entenderem o sentido de uma aliança num mundo dividido pelo pecado, e os ajudou a compreenderem a revelação divina, quando esta apresentou a relação do homem com Deus em termos de uma relação pactual. Deus ordenou a vida do homem de modo que o conceito de aliança se desenvolvesse como uma das colunas da vida social. A relação pactual entre Deus e o homem existe desde o princípio, muito antes do estabelecimento formal da aliança com Abraão.

Embora a palavra berith seja empregada muitas vezes com referencia a alianças entre os homens, sempre inclui um sentido religioso. Uma aliança é um pacto ou acordo entre duas partes ou mais. Na história da humanidade geralmente é um acordo em que as partes participam em igualdade, voluntariamente, depois de uma cuidadosa estipulação de seus deveres e privilégios mútuos; mas também pode ter a natureza de uma disposição ou de um arranjo imposto por uma parte superior à outra, que lhe é inferior, sendo aceito por esta (ex.: O Pacto feudal entre o suserano e o vassalo na Idade Média). Geralmente é ratificado por uma cerimônia solene, com a consciência da presença de Deus, e, com isso, obtém caráter inviolável onde cada parte se obriga ao cumprimento de certas promessas, com base nas condições estipuladas.

O fato da aliança entre Deus e o homem ser de decaráter desigual não anula a aliança, pois já pressupõem que a aliança da graça é a promessa de salvação na forma de uma aliança. É mais que certo que, tanto a aliança das obras (feita com Adão) como a aliança da graça (feita com Cristo), são originariamente de natureza de arranjos ordenados e instituídos unilateralmente por Deus, e Deus tem a prioridade em ambas; mas, mesmo assim, são alianças. Por Sua graça, Deus condescendeu em baixar ao nível do homem e a honrá-lo, tratando-o mais ou menos na base da igualdade. Ele estipula as Suas exigências e outorga as Suas promessas e o homem assume os seus deveres assim impostos a ele e, desta maneira, herda as bênçãos divinas.

Na aliança das obras o homem não podia satisfazer as exigências da aliança, em virtude dos seus dotes naturais, mas na aliança da graça ele é capacitado a satisfazê-las, unicamente pela influência regeneradora e santificante do Espírito Santo. Quando Adão e Eva falharam em obedecer os termos da aliança, Deus não os destruiu, mas revelou-lhes sua aliança da graça prometendo-lhes um salvador (Gn 3.6,15). Deus realiza no homem o querer e o efetuar, concedendo-lhe de graça tudo quanto dele requer. Chama-se aliança da graça porque é a revelação ímpar da graça de Deus, e porque o homem recebe todas as bênçãos prometidas na aliança como dádivas da graça divina. “Aliança é um pacto de sangue soberanamente administrado”.

A aliança é aquilo que une as pessoas como um laço inviolável. Ela é um pacto (relacionamento) entre Deus e o homem. O coração da aliança é este inter-relacionamento entre Deus e nós, o seu povo. Essa aliança estabelece um compromisso entre nós e Deus, que na Escritura é composto de: (a) Um juramento verbal (Gn 21.23,24,26,31; 31.53; Ex 6.8; 19.8; 24.3,7; Dt 7.8,12; 29.13; Ez 16.8. A estreita relação entre o juramento e a aliança enfatiza sua natureza pactual. (b) Uma ato simbólico como: A concessão de uma dádiva (Gn 21.28-32); ou o comer de uma refeição (Gn 26.28-30; 31.54; Ex 24.11); ou o erguimento de um memorial (Gn 31.44ss; Js 24.27); ou o aspergir de sangue (Ex 24.28); ou oferecimento de sacrifício (Sl 50.51); ou o passar debaixo do cajado (Ez 20.37) ou ainda o dividir animais (Gn 15.10,18). A presença desses atos simbólicos nas alianças bíblicas enfatizam o caráter de união das mesmas.

A aliança de Deus com o homem nunca é casual ou informal, mas suas implicações se estendem às últimas consequências de vida e morte. Isso fica claríssimo em Gn 15 na aliança com Abraão. A divisão do animal simboliza um “penhor de morte”. O autor da aliança invoca sobre si mesmo a maldição do descumprimento do pacto, que é a morte. A aliança é um pacto de sangue, ou seja, de vida e morte (Hb 9.22). Isso é o mesmo que dizer que o pacto exige lealdade de ambas as partes. Uma vez firmada a aliança, nada, além da morte, pode romper o pacto, a aliança. Numa aliança, a morte está no princípio da relação, simbolizando o fator maldição. No caso de um testamento, a morte está no fim da relação, efetivando uma herança. Um testamento é uma disposição de última vontade. Um aliança é um pacto estabelecido para o presente.

A aliança com Deus é soberanamente administrada por ele mesmo. Deus ofereceu e estabeleceu o pacto unilateralmente, ditando ele mesmo os termos da aliança. Nada de barganha ou troca caracteriza as alianças divinas nas Escrituras. Cada aliança descrita nas escrituras entre Deus e o homem pode ter pequenas variações no conteúdo ou nas promessas, mas a sua administração é constante: Aliança é um pacto de sangue soberanamente administrado.

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Bibliografia: O. Palmer Robertson. O Cristo dos Pactos, LPC, p.7-18. / Louis Berkhoff. Teologia Sistemática, ECC, p. 258-260. / James I. Packer. Teologia Concisa, ECC, p. 81-83. Wayne Gruden. Teologia Sistemática. Vida Nova, p. 425-432.

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