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Aula 19 = Livre Arbítrio e Livre Agência



Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Quem é o Homem Para Que Dele Te Lembres?
Professores: Pr. Hélio O. Silva e Presb. Baltazar M. Morais Jr.
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Aula 19 = LIVRE ARBÍTRIO E LIVRE AGÊNCIA (21/08/2011).
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“Enganoso é o coração mais do que todas as coisas,
e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9).


Livre Arbítrio poderia ser definido como a capacidade que o homem teve, quando criado, de escolher as coisas que combinavam com a sua natureza santa, mas que, mutavelmente, pudesse escolher aquilo que era contrário à sua natureza santa. Representa a capacidade de escolher todas as opções morais que uma situação oferece.

A Confissão de Fé de Westminster (CFW) traduz esse conceito assim:
"O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder." (CFW IX, 2).

Adão possuiu essa capacidade, pois foi capaz de fazer alguma coisa que era contrária à santidade com que foi capacitado. Ele teve, nesse sentido, a capacidade para uma escolha contrária, isto é, com natureza santa, escolheu o que era mal. O pecado original nos tirou o livre arbítrio, pois perdemos a capacidade natural de escolher os caminhos de Deus, porque não temos mais uma inclinação natural que nos direciona para Deus. Hoje nosso coração é cativo do pecado e somente a graça da regeneração pode nos livrar dessa escravidão (Jo 8.32-36). Quem comete pecado é escravo do pecado, logo, não é livre para não pecar quando quiser.

Livre Agência, por outro lado, poderia ser definida como a capacidade que todos os seres racionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem para qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquilo que combina com a natureza deles.

A Confissão de Fé de Westminster (CFW) traduz este pensamento nestas palavras:
"Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta de sua natureza." (CFW IX,1).

A livre agência é uma característica dos seres humanos, pois todos tomam as suas próprias decisões a respeito do que devem fazer, escolhendo o que lhes agrada à luz de seu discernimento do que é certo e errado e das inclinações que sentem.
Os agentes livres agem espontaneamente, com a auto-determinação da vontade deles. Anselmo de Cantuária argumentava que "se a vontade do homem ou de um anjo é suposta ser criada num estado de indiferença, sem qualquer inclinação para nada, então, não poderia começar qualquer ato de forma alguma. Ela permaneceria indiferente para sempre, e nunca teria qualquer inclinação." (W. G. T. Shedd). Se isto é assim, nenhum homem pode ser responsabilizado por nada, porque ele não começa nenhum ato. Mas o homem é criado com disposição e com inclinação, e sua disposição ou inclinação está sempre ligada à sua condição moral.

Em certo sentido, o homem perdeu a sua liberdade; noutro sentido, não a perdeu. Há uma certa liberdade que é possessão inalienável de um agente livre, a saber, a liberdade de escolher o que lhe agrada, em pleno acordo com as disposições e tendências predominantes da sua alma. Depois da queda no pecado o homem não perdeu nenhum das faculdades constitucionais necessárias para constituí-lo um agente moral responsável. Ele ainda possui razão, consciência e a liberdade de escolha. Ele tem capacidade para adquirir conhecimento e para sentir e reconhecer distinções e obrigações morais; e os seus afetos, tendências e ações são espontâneos, de sorte que ele escolhe e recusa conforme ache que o objeto de exame lhe sirva ou não. Além disso, ele tem a capacidade de apreciar e de fazer muitas coisas que são boas e amáveis, benévolas e justas, nas relações que ele mantém com os seus semelhantes. Mas o homem perdeu a sua liberdade material, isto é, o poder racional de determinar o procedimento, rumo ao bem supremo, que esteja em harmonia com a constituição moral original da sua natureza. O homem tem, por sua natureza, uma irresistível inclinação para o mal. Ele não é capaz de compreender e de amar a excelência espiritual, de procurar e realizar coisas espirituais, as coisas de Deus, que pertencem à salvação.

Para ser responsável por seus atos, portanto, o homem tem que simplesmente agir de acordo com sua vontade, espontaneamente, sem ser forçado de fora por ninguém. Apenas ele age de acordo com as suas disposições interiores.
Por isso, para que haja responsabilidade, não é necessário que haja o poder de escolha contrária, mas sim, que haja o poder de auto-determinação, que a ação seja nascida nas inclinações do ser racional. "A fim de responsabilizar o pecador por uma inclinação pecaminosa, não é necessário que ele seja capaz de reverter sua inclinação pecaminosa. É necessário somente que ele seja capaz de originar a ação, e que ele de fato a origine".

Originalmente, antes da queda, o homem teve tanto o livre arbítrio como a livre agência. Depois da queda o homem ficou somente com a livre agência, pois perdeu tanto o desejo quanto a capacidade de fazer o bem, isto é, o poder de agir contrariamente à sua natureza.

Aplicações:
1. Arrependimento e quebrantamento pela presença do pecado em nós. Ele é um mal que habita em nós.

2. Humildade diante de Deus a fim de rogar sua graça. Confiar na libertação que Cristo nos deu do pecado por meio do seu sacrifício substitutivo na cruz (Gl 1.3-5).

3. Andar no Espírito para vencer a nossa natureza humana pecaminosa (Gl 5.16-18).

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Bibliografia: Heber Carlos de Campos. Antropologia Bíblica. Apostila usada no SPBC; p. 6,7. / James I. Packer. Teologia Concisa. ECC; p.79-80. / Louis Berkhof. Teologia Sistemática. ECC, p. 671-674. / Confissão de Fé de Westminster. Cap. IX. / W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 2, p. 101-105.

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