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Exposição 14 = Gálatas 4.21-31 - Liberdade e Escravidão: Isaque e Ismael.


Introdução:
Algumas pessoas consideram esse parágrafo da epístola o mais difícil. Isso porque o texto faz duas exigências para a sua interpretação que não podem ser evitados: (1) Um bom conhecimento da história do Antigo Testamento. (2) O argumento de Paulo é muito técnico e exige muita atenção ao propósito de seu discurso.

Contexto:
Sua mensagem, no entanto, é bastante contextual para nós, pois trata da complicada questão de como podemos viver nossa liberdade em Cristo e não estar sob a Lei. Existem cristãos que vivem um cristianismo legalista reduzido à observância de regras, tratando o evangelho como se fosse uma nova lei que nos prende e disciplina.
Paulo confronta os judaizantes com a própria Lei, pois diziam viver debaixo da Lei, mas não a obedeciam completamente. Os verdadeiros herdeiros de Abraão são os que vivem pela fé, assim como ele viveu.

Proposição:
Paulo faz um contraste entre liberdade e escravidão, exemplificados na vida de Isaque e Ismael; Sara e Hagar. Seu argumento tem deduções lógicas:

I. SOMOS LIVRES COMO ISAQUE E NÃO ESCRAVOS COMO ISMAEL (v.22,23).

a) A verdadeira descendência de Abrão é espiritual, não física.
Um dos motivos de maior orgulho para um judeu era ser filho de Abraão. Deus se revelou a ele de modo claro e lhe prometeu dar a terra de Canaã e uma numerosa descendência de todo que seria incontável como as estrelas e os grãos de areia das praias.
Os judeus descansavam na aliança de Deus com Abraão, o que tanto João Batista (Mt 3.9) como Jesus julgaram enganosos (Jo 8.31-44). Eles mostraram que fé judaica estava equivocada por confiar sua herança na descendência física e não na descendência espiritual. Filhos de Abraão são os que crêem como a fé de Abrão.
Abraão teve dois filhos, mas eles eram completamente diferentes.

b) Eram diferentes porque nasceram de mães diferentes.
Isaque nascera de uma mulher livre, mas Isaque nascera da escrava. Sara era esposa de Abraão, Hagar era escrava de Abraão. Isaque nasceu livre, mas Ismael nasceu escravo.

c) Eram diferentes porque nasceram de maneiras diferentes.
Ismael nasceu de modo natural (segundo a carne), mas Isaque nasceu de uma promessa de Deus feita a Abraão (um milagre sobrenatural) [Hb 11.11].
Paulo diz que essas comparações são alegóricas.
Todos nós nascemos como Ismael (escravos do pecado) e pela fé devemos nos tornar com Isaque, livres do pecado.

II. VIVEMOS NA NOVA ALIANÇA E NÃO NA VELHA ALIANÇA (v. 24-27):

a) Quem era o povo de Deus?
Embora Paulo esteja fazendo uma alegoria, respeita as regras hermenêuticas da tipologia, ou seja, ele faz uma relação histórica entre as circunstâncias dos nascimentos de Isaque e Ismael com a verdade espiritual da existência de duas alianças entre Deus e seu povo: A velha aliança e a nova aliança. As duas alianças são representadas na pessoa das mães de Ismael (Hagar) e de Isaque (Sara).
A aliança é um acordo solene entre Deus e os homens, através do qual ele os transforma em seu povo e se compromete em ser o seu Deus. A antiga aliança foi dada por meio de Moisés (Lei) e a nova por meio de Cristo (sangue). Na antiga aliança Deus colocou responsabilidades sobre o povo: “farás... não farás”. Em Cristo ele mesmo assume as responsabilidades: “Eu farei”.
O povo de Deus na antiga aliança eram os judeus (os que viviam pela fé na promessa) e na nova aliança são os cristãos (justificados pela fé em Cristo).

b) Hagar.
Hagar é mãe que gerou um filho escravo e por isso representa a Lei que foi entregue por Moisés no Monte Sinai e a Jerusalém atual judaica com seus filhos escravizados à lei pelo judaismo.

c) Sara.
Sara representa a Jerusalém celestial salva pela graça. Ela é “lá de cima e livre”. Logo estamos ligados a Deus por uma nova aliança com uma cidadania de liberdade e não de escravidão.
Então Paulo cita Isaías 54.1, que é uma aplicação a Sara e Hagar, mas aos judeus no exílio. No exílio eram como uma mulher estéril e abandonada, mas depois da libertação seriam como a que tem filhos e canta alegremente o seu nascimento!
Paulo refuta aos judaizantes argumentando alegoricamente que não adianta evocar a Abraão como Pai terreno, pois o importante é saber de quem são filhos, de Sara ou de Hagar; da escrava ou da livre?

III. SOMOS LIVRES EM CRISTO E NÃO ESCRAVOS DA LEI (v. 28-31):
Se somos filhos de Abraão pela fé, somos como Isaque e não como Ismael. Nossa descendência é espiritual, não física; sobrenatural e não natural. É assim que funciona a justificação pela fé. Como Ismael tratou a Isaque é como o mundo nos tratará. Por isso:

a) Devemos esperar perseguição (v.29).
Ismael desprezou e escarneceu de Isaque quando ele foi desmamado. A perseguição mais grave desferida contra a igreja nem sempre é a que vem do mundo, mas a que vem dos crentes nominais ou dos ex-cristãos. A hierarquia legalista sempre foi um empecilho aos verdadeiros filhos de Deus.

b) Receberemos a herança prometida (v.30).
Embora Isaque tivesse que suportar zombaria por parte de Ismael, a herança lhe pertencia. Em Gênesis 17.18-21, Abraão chegou a desejar que Ismael fosse o herdeiro, mas Deus o recusou.
Embora enfrentemos a dor da perseguição, alegramo-nos com as riquezas da herança! O fato é que somos herdeiros com Cristo, herdeiros de Deus (Rm 8.17).

Conclusão:
1. Herdamos as promessas do Antigo Testamento.
O verdadeiro cumprimento das promessas do Antigo Testamento não literais, mas espirituais. As promessas de Deus se cumprem totalmente em Cristo e não na nação judaica com querem os dispensacionalistas, por somos herdeiros pela fé em Cristo e não pela descendência abraâmica. Nós, a igreja, somos o Israel de Deus (6.16) e a verdadeira circuncisão (Fp 3.3).

2. Experimentamos a graça de Deus.
A antiga aliança é marcada pela criação, a Lei e a servidão; mas a nova aliança é caracterizada pela promessa, o Espírito Santo e a liberdade. A primeira é antropocêntrica e a segunda é teocêntrica, por isso o cristianismo não é uma religião natural, baseada no homem, mas é sobrenatural, baseada em Cristo, baseada em Deus.

Quem é como Ismael acha que é justo por natureza, mas quem é como Isaque sabe que a justiça vem de Deus em Cristo sobre si. Quem quer viver sob a lei, vive na servidão, quem quer viver sob a graça, vive a liberdade que Cristo dá (Jo 8.32,36).
Devemos ser como Isaque, não como Ismael; livres, não escravos; porque somente em Cristo podemos herdar a promessa, receber a graça e desfrutar da liberdade de Deus.

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