Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO
Classe de Doutrina II – Quem É O Homem Para Que Dele Te Lembres?
Professores: Pr. Hélio O. Silva e Presb. Baltazar M. Morais Jr.
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Aula 07 = A Imagem de Deus no Homem (I) 03/04/2011.
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1.DEFINIÇÃO:
A imagem de Deus no homem é a expressão daquilo que é mais distinto no homem e em sua relação com Deus, distinguindo-o dos animais e de todas as outras criaturas. “A imagem de Deus abrange tudo que na natureza do homem sobrepuja à de todas as outras espécies de animais” (Calvino, Institutas I.15.308). Significa qe o homem é semelhante a Deus e o representa. Nem os anjos compartilham com os homens essa honra e jamais são apresentados como participantes de sua criação. Eles são espíritos ministradores enviados para servir aos herdeiros da salvação (Hb 1.14).
Os termos imagem e semelhança (Gn 1.26,27) se referem a algo similar, porém não idêntico (igual) a Deus. A palavra imagem pode ser usada para exprimir algo que representa outra coisa. De forma simples, ser criado à imagem de Deus liga a existência do homem completamente a Deus e seus propósitos. Daí, quanto mais o homem conhecer a Deus, mais conhecerá a si mesmo e quanto mais conhecer a si mesmo, poderá conhecer a Deus.
A imagem de Deus (Imago Dei) consiste especialmente naquela integridade original (justiça original) da natureza do homem, perdida por causa do pecado, integridade que se revelava no verdadeiro conhecimento, justiça e santidade. A justiça original é a perfeição moral da imagem de Deus que podia ser perdida por causa do pecado, e foi exatamente isso que aconteceu na queda do homem no pecado (Gn 3).
A imagem de Deus constitui a essência do homem. Todavia, precisa-se fazer uma distinção entre os elementos da imagem de Deus que o homem não pode perder sem deixar de ser homem, os elementos que consistem das qualidades e poderes da alma humana, e aqueles elementos que o homem pode perder e continuar sendo homem, a saber, as boas qualidades éticas da alma e seus poderes. Em resumo, pode-se dizer que a imagem de Deus consiste:
(a) Da alma ou do espírito do homem (as qualidades de simplicidade, espiritualidade, invisibilidade e imortalidade).
(b) Dos poderes ou faculdades psíquicas do homem como um ser racional e moral (o intelecto e a vontade com as suas funções).
(c) Da integridade moral e intelectual da natureza do homem, que se revela no verdadeiro conhecimento, justiça e santidade (justiça original = Ef 4.24; Cl 3.10).
(d) Do corpo, não como substância material (I Co 15.35-49), mas como o apto órgão da alma, e que participa da imortalidade desta; e como o instrumento por meio do qual o homem pode exercer domínio sobre a criação inferior.
(e) Do domínio do homem sobre a terra como uma concessão especial de Deus (Gn 1.26; Sl 8.5,6).
É muito estreita a CONEXÃO EXISTENTE ENTRE A IMAGEM DE DEUS E O ESTADO ORIGINAL DO HOMEM e, por isso ambos são geralmente considerados juntos.
2. O CONCEITO CATÓLICO ROMANO
Afirma que a justiça original não pertencia à natureza humana em sua integridade, mas foi algo acrescentado sobrenaturalmente. Na criação o homem foi simplesmente revestido de todos os poderes e faculdades naturais da natureza humana como tal e, pela justitia naturalis, esses poderes foram muito bem ajustados uns aos outros. Ele estava sem pecado e vivia num estado de inocência perfeita. Havia, porém em sua natureza uma tendência dos apetites e paixões inferiores para rebelar-se contra os poderes superiores da razão e da consciência. Essa tendência, denominada concupiscência, não era pecado em si mesma, porém facilmente podia vir a ser ocasião e combustível para o pecado (conceito contraditado por Rm 7.8; Cl 3.5; 1 Ts 4.5). Então, o homem, como originariamente constituído, estava sem santidade positiva, mas também sem pecado, embora levando o fardo de uma tendência que facilmente poderia redundar em pecado (uma neutralidade relativa). Mas agora Deus acrescentou à constituição natural do homem o dom sobrenatural da justiça original pela qual ele foi habilitado a manter na devida sujeição as propensões e os desejos inferiores. Quando o homem caiu, perdeu aquela justiça original, mas a constituição original da natureza humana permaneceu intacta. O homem natural está agora exatamente onde Adão estava antes de ser dotado da justiça original, embora com uma inclinação um tanto mais forte para o mal.
3. CONCEITOS RACIONALISTAS
Lançam em total descrédito o conceito de um estado primitivo de santidade. (a) Alguns pelagianos e arminianos definem o estado de inocência no qual o homem fora criado como de neutralidade moral e religiosa, mas dotado de livre arbítrio, de modo que podia seguir esta ou aquela direção. (b) Os evolucionistas afirmam que o homem começou a sua carreira num estado de barbárie, apenas ligeiramente diferente dos animais irracionais. (c) Os racionalistas acreditam que um estado original de justiça e santidade é uma contradição de termos. O homem determina o seu caráter por sua própria e livre escolha, e a santidade só pode resultar de sua vitoriosa luta contra o mal e não por Adão ter sido criado num estado de santidade. (d) Além disso, os pelagianos, os socinianos (radicais da época da Reforma) e os racionalistas sustentam que o homem foi criado mortal. A morte não resultou da entrada do pecado no mundo, mas simplesmente com o término natural da vida humana. Adão teria morrido de qualquer modo, mesmo se não houvesse a queda no pecado.
4. O ESTADO ORIGINAL DO HOMEM.
O homem foi criado originalmente num estado de relativa perfeição, um estado de justiça e santidade. Não significa que ele já tinha alcançado o mais elevado estado de excelência de que era suscetível. Admite-se que ele estava destinado a alcançar um grau mais elevado de perfeição pela obediência. Um tanto semelhante a uma criança, era perfeito em suas partes, não porém em grau. Sua condição era preliminar e temporária, podendo ser elevado a uma maior perfeição e glória ou acabar numa queda. Foi por natureza dotado daquela justiça original (verdadeiro conhecimento, justiça e santidade) que é a glória máxima da imagem de Deus e, conseqüentemente, vivia num estado de santidade positiva.
A perda daquela justiça significaria a perda de uma coisa que pertencia à própria natureza do homem em seu estado ideal. O homem podia perdê-la e ainda continuar sendo homem, mas podia não perdê-la e continuar sendo o homem no sentido ideal da palavra. Noutras palavras, sua perda significaria realmente uma deterioração e um enfraquecimento da sua natureza humana.
Além disso, o homem foi criado imortal, no sentido de que depois de sua concepção jamais deixará de existir novamente. Tanto sua alma quanto o seu corpo estão destinados a ter existência permanente. Isso não significa, porém, que o homem foi elevado acima da possibilidade de ser presa de morte; isto só se pode afirmar sobre os anjos e os santos que estão no céu. Significa, porém, que o homem, como criado por Deus, não levava dentro de si as sementes da morte e não teria morrido necessariamente em virtude da constituição original da sua natureza.
Embora não estivesse excluída a possibilidade de vir a ser vítima da morte, não estava sujeito à morte, enquanto não pecasse. Deve-se ter em mente que a imortalidade original do homem não era uma coisa puramente negativa e física, mas era também uma coisa positiva e espiritual. A imortalidade original do homem significava vida em comunhão com Deus e o gozo do favor do Altíssimo. Esta é a concepção fundamental da vida, segundo a Escritura, assim como a morte é primariamente a separação de Deus e a sujeição à Sua ira, vida eterna é comunhão imperdível com Deus. A perda dessa vida espiritual daria lugar à morte, e redundaria também na morte física.
5. APLICAÇÕES:
(1ª) Ser criado à imagem de Deus dignifica o homem e o responsabiliza perante si mesmo. As insatisfações que temos conosco mesmos são frutos do pecado. Existem deficiências verdadeiras, que podem ser mudadas; mas quando queremos mudar o que é natural incorremos no erro de rebelião pecaminosa.
(2ª) Ser criado à imagem de Deus dignifica e responsabiliza o homem perante Deus. O homem deve culto e serviço ao seu criador.
(3ª) Ser criado à imagem de Deus dignifica e responsabiliza o homem perante o seu semelhante e perante toda a criação. O homem é o mordono cuidador da criação como representante de Deus.
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Bibliografia: Louis Berkhof, Teologia Sistemática, ECC, p. 195-204./ Wayne Gruden, Teologia Sistemática, Hagnos, p.364-372.