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Exposição 06 = Gálatas 2.11-16 - Um Apelo à Coerência (23/03/2011)

Gravura: O Apóstolo Pedro e Paulo - El Greco (1587-92)

Introdução:
Este é um dos episódios mais tensos descritos no Novo Testamento.

Contexto:
Tendo recebido a destra da comunhão de Pedro, João e Tiago, Paulo se retira de Jerusalém e volta a Antioquia. Agora é Pedro quem retribui a visita e passa alguns dias com Paulo na igreja majoritariamente gentílica de Antioquia.
Antioquia era a principal cidade da Síria, e talvez de toda a Ásia nesse tempo. Foi em Antioquia que os discípulos de Cristo foram chamados pela primeira vez de cristãos (At 11). A igreja de Antioquia foi uma igreja forte e influente até por volta do século V.
O que aconteceu lá? Pedro participava da vida comunitária, comendo e hospedando-se com os cristãos gentios. Tudo ia muito bem até que algumas pessoas ligadas a Tiago, o irmão do Senhor, e líder da igreja de Jerusalém desceram também a Antioquia e causaram este histórico confronto entre Paulo e Pedro. Pedro se afastou dos irmãos gentios e passou a estar somente com os cristãos judeus e os judaizantes infiltrados no grupo.

Proposição:
Paulo confronta a Pedro publicamente por meio de um veemente apelo à coerência e à lealdade ao verdadeiro significado do Evangelho. Vejamos esse apelo de Paulo por meio de dois argumentos:

I) A INCOERÊNCIA É REPREENSÍVEL (V. 11-13):

a)O comportamento repreensível de Pedro.
 Ele se tornara repreensível.
 A incoerência deve ser resistida face a face.
A incoerência de Pedro não era doutrinária, mas ética. A sua conduta espelhou aquilo que ele não cria nem ensinava. Tanto Pedro quanto Paulo eram cristãos, apóstolos e renomados líderes nas igrejas cristãs. Ambos eram habitados pelo Espírito Santo e comungavam do mesmo evangelho.
De repente, Pedro que comia e bebia e até mesmo participava da ceia com os cristãos de Antioquia deixou de fazê-lo. O grupo judaizante usou do nome e da autoridade de Tiago, sem que ele lhes desse (At 15.5) e passou a pregar o evangelho judaizante condenado pelo Concílio de Jerusalém logo depois (At 15).
Pedro se afastou como alguém cauteloso que procura uma forma de não ser notado ao fazê-lo. Afastou-se “vagarosamente”. Por que fez isso?

b)O que gerou a incoerência?
Teve medo dos da circuncisão.
Atendeu a uma atitude partidarista e abandonou a pureza do evangelho. Pedro ficou intimidade pela presença e o discurso do grupo judaizante. Será que Pedro se esquecera da visão que recebera em Jope descrita em Atos 10.9-15)?
O problema foi mais sério.

Deu ouvido a dissimulações.
Dissimulação é comportar-se como um hipócrita, literalmente “fazer fita, fingir”. Ele e os outros agiram com falta de sinceridade, não por convicção pessoal. Ou seja, tentando agradar um grupo, desagradou o outro e comprometeu o evangelho. Pedro fez em Antioquia o que Paulo se recusara a fazer em Jerusalém: Ceder diante de pressão. Sua conduta não era a conduta esperada do evangelho, ele foi incoerente com a sua crença, pregação e experiência cristã. Nós contradizemos o evangelho nas nossas ações quando nos falta coragem nas nossas convicções.

Enredou outros consigo (Barnabé).
Sua incoerência teve conseqüências na implicação de Barnabé. Barnabé fora firme em Jerusalém ao lado de Paulo (2.1,2), mas não permaneceu firme na sua própria igreja! Isso deixou Paulo admirado! Barnabé perdeu o jogo dentro de casa, o que foi muito mais vergonhosos! Ele era o principal pastor de Antioquia; foi ele quem levou Paulo para lá; e havia resistido firme em jerusalém!

II) A INCOERÊNCIA DEVE SER IDENTIFICADA E CORRIGIDA (V.14-16):

a) Eles não procediam segundo a verdade.
A razão de Paulo se indispor contra Pedro foi que ele e Barnabé não agiram de acordo com a verdade do evangelho que eles criam. Se Paulo não fizesse isso e deixasse passar a oportunidade, então a igreja cristã teria se enveredado para a sua primeira divisão. Teríamos uma igreja com duas mesas do Senhor! Haveria uma rixa permanente entre igreja judaica e igreja gentílica. Mais uma vez a coerência de Paulo garantiu a coerência da igreja!
Ilustração: Atanásio de Alexandria foi exilado 5 vezes por resistir ao Arianismo no 4º século. A sua obra “Da Encarnação do Verbo” é um clássico da doutrina da divindade-humanidade de Cristo!
Paulo resistiu a Pedro, enfrentando-o publicamente porque seu comportamento repreensível colocou em jogo sua lealdade ao evangelho da graça. Não há arrogância da parte de Paulo, há amor pelo evangelho. Paulo fez o oposto do que faríamos hoje em dia. Nós tentaríamos abafar e marcar uma reunião particular para tratar do assunto. Mas como Pedro agira publicamente, ainda que discretamente, movido por medo é claro, sua ação pública de abandonar os cristãos gentios e não mais comparecer à celebração da ceia com eles, sua ausência pública tornou público o seu erro.

b) O que realmente estava em jogo era a lealdade ao evangelho.
 Eu não posso obrigar outros a viverem o que eu não vivo.
Pedro vivia como gentio, na liberdade do evangelho, e agora pelo mau exemplo os obrigava a viver como judeus presos à Lei, não conhecedores da graça!

c) Qual é o fundamento do evangelho?
 O homem não é justificado por obras da Lei.
 O homem é justificado mediante a fé em Cristo.
 Nós cremos em Cristo a fim de sermos justificados pela fé nele.
O fundamento do evangelho está no fato de que pecadores culpados e sob o julgamento divino, podem e são perdoados e aceitos por Deus através da graça, pelo favor livre e não merecido de Deus, com base no sacrifício de Cristo na cruz e jamais através de obras meritórias nossas. A verdade do evangelho é a doutrina da justificação tão somente pela graça mediante a fé (Ef 2.8,9), que será o tema do próximo parágrafo.
Se Deus aceitou os gentios com base na graça, quem somos nós para rejeitá-los devido a dissimulações e temores pessoais? Se Deus não rejeitou oferecer a sua comunhão no evangelho, quem somos nós para rejeitar oferecer a nossa comunhão pessoal? Essa era a incoerência de Pedro que negava ao evangelho o seu devido valor e aplicação prática!
Esse incidente precipitou o futuro e decisivo Concílio de Jerusalém, narrado por Lucas em Atos 15, que é conhecido como o primeiro Concílio da igreja, realizado em Jerusalém em 50 dC.

Aplicações:
1. Devemos andar corretamente, de acordo com o evangelho.
Não basta cremos no evangelho, devemos aplicá-lo ao nosso comportamento diário.
Não podemos negar a nossa comunhão a outros grupos que crêem no evangelho tal como nós. Isso é tão grave entre nós. Temos dificuldades dentro da própria igreja local; na denominação; quanto mais com outras igrejas cristãs!
Ao que Deus purificou não podemos considerar comum (At 10.15).

2. Devemos nos opor àqueles que negam o evangelho.
Existem muitos grupos de pressão dentro da igreja, não podemos ceder por causa de medo, conveniência pessoal ou dissimulação de ensino. Precisamos manter nítido diante de nós o evangelho e agir sinceramente sempre movidos por nossa lealdade ao evangelho em primeiro lugar. Não podemos aceitar passivamente qualquer alteração na essência do evangelho da graça. Aceitar mudanças no evangelho é abraçar a tragédia na igreja, devemos resistir aos que provocam mudanças no evangelho sem hesitação!

Conclusão:
A coerência tem um preço, que pode ser às vezes bem alto, mas torna muito mais nítido o nosso caminho!

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